03 junho 2007

De volta em Kathmandu

Depois de quase 2 meses nas montanhas regressamos à civilização, ou quase isso, em Kathmandu. Difícil resumir em um texto tudo o que vivemos neste tempo, muitas paisagens, diferentes pessoas, momentos únicos e especiais junto à natureza espetacular das montanhas do Himalaia. Novos amigos, experiências nas altitudes e principalmente vivendo cada momento intensamente. Deixamos Kathamandu no dia 02 de abril bem cedo para pegar nosso vôo para Tumilingtar, um pequeno povoado no Vale Arun a 500m de altitude. Lá foi o ponto de partida da nossa aproximação ao Makalu, 122 km em 10 dias de caminhada, um verdadeiro sobe e desce pelo relevo cada vez mais escarpado da cordilheira. Subimos primeiro para 2.000m e descemos novamente para 700m e cruzamos o Rio Arun. Voltamos a subir para 4.300m para cruzar o Shipton Pass e trocar para o vale do Rio Barun. Descemos até 3.200m para então iniciar a subida até os 5.000m do Campo Base do Baruntse (7.129m). A idéia era aproveitar a escalada do Baruntse para aclimatar na altitude. Ficamos 10 dias para realizar a escalada mas não chegamos ao cume. No dia que chegamos no Campo 1 (6.100m) iniciou-se um ciclo de clima que durou até nós irmos embora do Makalu, dia 22 de maio. Pelas manhãs em geral tempo bom com céu azul, cerca do meio dia entravam nuvens e começava a nevar que normalmente durava toda a tarde e às vezes durante a noite toda. Bem, no Campo 1 do Baruntse pegamos a primeira grande nevasca, e no dia seguinte movemos para o Campo 2 e outra nevasca ainda no caminho. Armamos a barraca já em péssimas condições e nesta ocasião congelei os lábios pela primeira vez nesta expedição, depois foram mais 2 o que resultou em meus lábios em péssimas condições durante todo o tempo. Enfim, durante a madrugada seguinte saímos para o cume, Waldemar e eu, pois Tonto, Edu e Ale já tinham abandonado a escalada antes. Tudo ia bem até que a 6.900m chegamos em uma crista super afiada e com muita neve em má condição, avaliamos o risco e a conclusão foi melhor dar meia volta, não havia nada realmente firme para poder colocar alguma segurança. Assim encerramos a subida a esta montanha e voltamos para a base, claro que com mais neve no caminho. Ainda não sabíamos mas a neve seria uma constante em toda escalada. Tivemos "pouco" frio, praticamente nada de vento mas muitaaaaa neve. Descançamos 2 dias e movemos nosso Campo Base para 5.700m, mais próximo do Makalu (8.463m). No dia 25 de abril fizemos a primeira investida no Makalu. Nossa intenção era chegar ao Makalu La (7.440m), onde montaríamos nosso Campo 2. No mesmo dia montamos nosso Campo 1 (6.600m). De lá fizemos uma investida ao Makalu La e conseguimos chegar somente a 6.900m. O tempo piorou muito e voltamos para o Campo Base. Descansamos 2 dias e voltamos para o Campo 1. Foram mais 3 tentativas de chegar no Makalu La, mas só chegamos a 7.300m e a neve nos empurrou novamente para baixo. Já estavamos ficando preocupados pois já tinha muita neve acumulada nas encostas da montanha. Na descida levei um susto, caí em uma greta completamente escondida no gelo. Na realidade estava andando desencordado no glaciar pois já tinhamos feito o mesmo percurso algumas vezes e marcado todas as gretas com bambus. Estava caminhando logo atrás do Pemba, nosso Sherpa (carregador de altitude), ele passou e eu "vazei" uns 4 metros dentro do buraco e consegui "travar" na chaminé. Não sei se foi sorte, mas o buraco tinha ainda uns 40m para baixo! Ainda bem que estava com o piolet na mão e assim que parei cravei ele e me assegurei. Logo ao meu lado tinha uma ponte de gelo que com poucos movimentos consegui alcançar. Bem, não só estávamos desencordados como não tinhamos nenhuma corda conosco, ainda bem que tínhamos umas fitas que emendamos para chegar até a minha mão. Estava sem cadeirinha também e a fita não dava para passar na cintura poir era curta, assim "clipei" a fita na alça da mochila mesmo enquanto Waldemar, Pemba e Gilles me asseguraram para poder escalar a parede da greta. Na subida sem querer derrubei um bloco de gelo bem na minha cara, que cortou minha testa e nariz, e me derrubou também. Por sorte a alça da mochila Mont Blanc aguentou a queda e fiquei pendurado por ela... obrigado Drá, a fivela foi resistente. Para sair os 3 me puxaram pela alça da mochila mesmo até o lado de fora. Resumindo, foi com emoção!
De volta ao Campo Base ficamos 5 dias para poder recuperar um pouco os estragos da greta. O melhor de cada volta era sempre encontrar novamente com a Marcia. Afinal ela estava por lá ajudando a cuidar do acampamento e era com ela que faziamos nossos contatos de rádio para saber os boletins metereológicos e como estava o clima a 5.700m. Dia 10 de maio resolvemos subir novamente e ficar lá por cima até o ataque ao cume. Novamente a neve nos empurrou para baixo já no dia seguinte e no dia 11 as 20h já estávamos no Campo Base. De acordo com as informações dos boletins metereológicos e de outras expedições, no Everest entre 17 e 19 teríamos uns dias melhores para tentar o cume. Partimos no dia 14 e dormimos no Campo 1. Saímos às 5h da manhã para tentar chegar no Makalu La e por fim chegamos às 19h no alto dos seus 7.440m e montamos nosso Campo 2. Nesta noite nevou muito e ventou forte, acho que lá sempre venta forte. Amanheceu mais calmo e azul e seguimos com o objetivo de chegar ao Campo 3 a 7.900m mas a neve mostrou-se mais forte que nós e, para piorar, o Tonto e o Gilles desistiram da escalada. Paramos às 14h, já cansados a 7.550m e montamos um acampamento intermediário logo antes de começar a nevar novamente. Por sorte não nevou muito e no dia seguinte voltou o céu azul. Seguimos nosso caminho mas novamente a neve nos impediu de alcançar o tão desejado lugar do Campo 3 e chegamos à 7.700m. Parece que subimos pouco, mas na realidade depois do Makalu La tivemos que cruzar a montanha de um lado ao outro e apesar do desnível ser pequeno andamos muito em distância, acho que algo perto de 3 km e lá na altitude. Nesta noite praticamente não dormimos e às 3h da manhã deixamos a barraca para tentar um ataque ao cume bem longo. Logo de saída já tivemos dificuldades, acampamos no meio de um grupo de seracs e para terminar a travessia dos seracs passamos uns lances com muita neve fofa. A noite não foi super fria e a neve fresca estava em péssimas condições. Vencida a travessia chegamos em uma rampa pouco inclinada e foi aí que percebemos que realmente estávamos muito lentos para tudo que teríamos pela frente. Estávamos a 7.800m e ao amanhecer percebi também que tive um pequeno derrame no olho esquerdo e a minha visão estava, e ainda está, um pouco prejudicada. Enfim nos demos conta de que o esforço que teríamos que fazer estava compromentendo nossa segurança, certamente chegaríamos no cume muito tarde, mas a volta não estava garantida. Sentamos diante de uma vista espetacular com todo o planalto do Tibet em nossa frente e o Everest bem próximo à nossa esquerda e relaxamos, certamente ficamos por alí uns 40 min, contemplativos na hora mágica do nascer do sol. Voltamos ao acampamento, acordamos o Pemba, e arrumamos tudo. Às 8h iniciamos nossa volta para o Makalu La onde chegamos às 12h já sob mais neve. Resolvemos voltar até o Campo 1 e na descida mais emoções. Segurei uma queda do Pemba na pendende e algumas travessias com neve muito instável. Por fim às 20h já no escuro chegamos sedentos no Campo 1. No dia seguinte voltamos ao Campo Base e 2 dias depois iniciamos a volta para Tumlingtar que durou 7 dias. O caminho parecia outro, muito mudado pois derreteu quase toda a neve das baixas altitudes e travamos uma luta contra as sangue-sugas. Dia 29 de maio voamos de volta para Kathmandu e dia 05 de junho deixaremos o Nepal.
Agradeço a todos que de alguma forma colaboraram com a expedição e em breve colocaremos aqui algumas fotos para ir adiantando um pouco o visual.
Beijos.... Irivan

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